Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.
A Recomendação do apóstolo Paulo ao jovem pastor Timóteo não dizia respeito apenas ao cuidado com as ovelhas e com a doutrina, mas havia o conselho acerta do autocuidado. O autocuidado é fundamental para os líderes cristãos, porque apenas cuidando de si mesmos, os pastores, pregadores, evangelistas, missionários e outros, conseguirão cuidar dos outros.
Mas o que envolve o autocuidado referido por Paulo na primeira carta ao jovem pastor Timóteo? O primeiro cuidado recomendado pelo apóstolo é: sê exemplo dos fiéis (I Tm 4.12). O primeiro autocuidado que o líder cristão precisa ter é ser exemplo dos féis. Mas em que? o próprio apóstolo responde: na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza. Ora, quando o líder cristão se dá por exemplo em todas as áreas descritas pelo apóstolo, preserva a si mesmo.
O líder cristão pratica o autocuidado quando é exemplo na palavra, porque não compromete os seus ensinamentos com heresias mundanas, tampouco com modismos, mas persevera na sã doutrina. Além disso, podemos compreender que o exemplo na palavra engloba não praticar a hipocrisia, mas pelo contrário, manter coerência na palavra conforme Jesus ensinou em Mt. 5.37, seja nosso sim, sim e o nosso não, não. Devemos ser pessoas de uma palavra só.
No trato, o autocuidado do líder cristão, diz respeito a como se comportar em relação às várias classes de pessoas pertencentes a uma comunidade cristã. O apóstolo aos gentios é mais preciso na sequência da carta quando aconselha o pastor Timóteo: não repreendas asperamente o ancião, mas admoesta-o como a pai, aos moços como a irmãos, as mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza. Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas. (1 Tim. 5:1-3) .
Ou seja, o autocuidado evolve zelo no trato com as várias classes de pessoas que existem em uma comunidade cristã, para que evite-se falatórios e amarguras. Prosseguindo, o apóstolo Paulo admoesta Timóteo a ser exemplo no espírito. Acredito que ele estava ensinando Timóteo a necessidade de não utilizar apenas a razão na condução da sua vida, mas também entregar-se ao Espírito Santo, ou seja, cultivar o fruto do espírito com as suas várias facetas e os dons espirituais.
O autocuidado envolve também ser exemplo na fé. Quando o líder esmorece, os liderados não tem força para continuar. Para que uma comunidade cristã possa seguir em frente nos propósitos eternos do Senhor, o líder precisa ser o exemplo de fé a ser seguido, porque se o líder demonstrar fragilidade nessa área se torna muito difícil o engajamento para a obra. Se estiver tudo difícil, o líder precisa mostrar um horizonte de fé para o qual os liderados possam caminhar seguros da providência de Deus que não falha.
O autocuidado também envolve ser exemplo na pureza. Nesses tempos trabalhosos que vivemos, esta palavra toma um significado especial, porque ser exemplo na pureza diz respeito à linguagem, trato, pensamentos, etc. Os desafios deste tempo tem tornado este autocuidado desafiador, porque a tecnologia trouxe muitos benefícios, mas também muitas dificuldades. O líder cristão precisa estabelecer limites para si mesmo se quiser ter êxito neste autocuidado.
Para que o cuidado consigo mesmo seja viabilizado, o apóstolo Paulo recomenda a Timóteo que ele deveria persistir em ler, exortar e ensinar (I Tm. 4.13). A mente do líder cristão não pode ser uma mente desocupada. Para que consiga cuidar de si mesmo precisa estar em constante leitura da palavra de Deus e bons livros, exortando os irmãos a continuarem no caminho da salvação e ensinando a sã doutrina. Chama a atenção a palavra-chave "persiste", nesta recomendação de Paulo. Acredito que seja devido à dificuldade da tarefa para alguns, ou seja, por se tratar de uma tarefa que muitas vezes não é fácil, o líder cristão deve praticá-las mesmo contra a sua própria vontade.
Por fim, o autocuidado envolve a confiança na graça de Deus manifestada pelos dons que recebemos e em períodos de meditação acerca das coisas de Deus (I Tim. 4:14-15). Para que possamos praticar o autocuidado precisamos de autoconhecimento, pois quando o apóstolo Paulo recomenda a Timóteo que não despreze o dom que recebeu, está afirmando que ele deveria saber quem ele era em Cristo. Nós não devemos exercer um dom que não recebemos, mas também não devemos deixar de exercer os dons que recebemos, ou seja, não devemos desprezar os dons que Deus nos dá, especialmente depois de buscá-los com zelo.
Para arrematar existe a recomendação da meditação acerca das coisas de Deus. A vida do líder cristão e da igreja de um modo geral, não pode ser um frenesi de atividades "evangélicas", precisamos repensar as nossas práticas porque esse ritmo acelerado está adoecendo as pessoas dentro das igrejas com as mais diversas doenças ou até mesmo matando. Nesses últimos tempos pastores se suicidaram e morreram de infarto, como nunca antes na história da igreja.
É preciso repensar. Os líderes cristãos precisam cuidar de si mesmos, e especialmente abrir um espaço na agenda para a meditação. Nós precisamos substituir o excesso de atividades nas igrejas por tempo de oração. Precisamos substituir as programações que servem apenas para entreter as pessoas, por um tempo com a família em nossos lares ou meditando sozinhos. O líder cristão precisa ter tempo para si mesmo. Tempo para meditar na vida, praticar exercícios físicos, viajar com a família, etc.
Nós precisamos considerar esse tema do autocuidado dos líderes cristãos, porque este ritmo acelerado e o excesso de programas não está fazendo bem aos líderes cristãos, tampouco às igrejas. Volto a dizer, devemos olhar para a igreja primitiva que não se reunia para participar programações espetaculares, mas se reuniam para orar. O resultado das reuniões de oração da igreja primitiva eram curas, poder, unção, conversão em massa e grandes sinais e prodígios. Será quem está com a razão, a igreja primitiva que se reunia simplesmente para orar ou a igreja moderna com o seu excesso de programações?
As pistas das respostas estão aí, hoje em dia temos muitos líderes desmotivados, cansados, com vontade de desistir, e vários deles enfrentam essa triste realidade porque não praticam o autocuidado.
Concluímos que é indubitável que um líder doente causará danos à comunidade que lidera, ou seja, para que um líder cristão possa cuidar dos outros, em primeiro lugar precisa cuidar de si mesmo.
Que Deus em Cristo nos abençoe,
Ev. Sylmar Ribeiro Brito
Comments