Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?
Este é um versículo bíblico que já me fez meditar várias vezes. Eu me pegava pensando: será que existe um limite para ser justo? Como seria na prática ser demasiadamente justo? E mais, por que razão ser demasiadamente justo destruiria a mim mesmo? Esses foram alguns dos questionamentos que fiz na minha adolescência, juventude e até na fase na adulta. Com o passar dos anos entendi que, sim, há um limite para ser justo, porque quando somos demasiadamente justos acabamos sendo mesmo prejudicados por nós mesmos.
É interessante como Deus coloca limites nas nossas ações e até mesmo nos nossos sentimentos, para sermos bem sucedidos. Por exemplo, o limite do meu amor a Deus é amar acima de todas as coisas, mas o meu limite do meu amor ao próximo é o amor que tenho por mim mesmo. (Mt. 7.21). Quando eu amo o meu próximo acima do meu amor próprio isso pode me causar sofrimentos, como baixa autoestima, autoimagem distorcida, etc. Porque eu só posso oferecer um amor saudável que eu tenha na mesma intensidade por mim mesmo.
Com relação à prática da justiça ocorre o mesmo, porque quando somos justos além da medida podemos nos comprometer com alguma situação que está além da nossa capacidade ou aceitar uma condição que está além das nossas forças. A palavra de Deus estabelece um limite da exigência Dele para o nosso comprometimento, qual seja, o limite das nossas forças (Ec. 9.10). Deus não exige de nós além do que podemos entregar, também assim é na prática da justiça.
Mas o que é ser demasiadamente justo? Para ser didático, vamos exemplificar: digamos que a sua família precisa de uma certa quantidade de alimento, mas na sua igreja e/ou vizinhança existem muitas pessoas passando necessidades, e nesse caso você tem uma atitude demasiadamente justa entregando todo o seu alimento para a igreja e/ou para os vizinhos deixando os seus familiares perecerem na escassez. Você pode estar pensando: "mas Deus provê"! Sim, Deus provê quando somos generosos, mas a palavra do Senhor nos alerta para não sermos demasiadamente justos para evitar prejuízos pessoais causados por nós mesmos.
A sabedoria de Deus é impressionante, porque se eu entregar todo o meu alimento ao próximo e deixar a minha família padecer de fome, quem está causando prejuízo a mim não é o meu próximo e tampouco Deus, sou eu mesmo, porque estou sendo demasiadamente justo. Portanto, ser demasiadamente justo é tomar atitudes que aparentemente são excelentes, mas que nos trarão prejuízo pessoal. Deus não quer isso! Quando nos comprometemos muito com os trabalhos da igreja, por exemplo, e privamos a nossa família da nossa presença e convívio, para muitos tal pessoa pode estar praticando uma justiça excelente, mas para Deus pode ser uma justiça em demasia, porque está trazendo prejuízo pessoal.
A bíblia traz implicitamente ou em outros caso explicitamente, em todas as suas páginas um princípio nem sempre praticado e compreendido nos tempos hodiernos: o princípio do equilíbrio. É curioso como o autor aos provérbios, o sábio rei Salomão entalece a grandiosidade do equilíbrio em provérbios 30:8: "Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume;"
A justificativa do autor do livro de provérbios para pedir a Deus que não lhe desse riqueza, é exatamente para que não se envaidecesse e se afastasse de Deus: Para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão. Nós percebemos, então, que o equilíbrio das nossas ações é uma chave de bem-aventurança. Portanto, quando praticarmos justiça não é errado fazermos o questionamento se a prática do referido ato caracteriza justiça em demasia que pode nos trazer algum tipo de prejuízo pessoal.
Quantas são as pessoas que se dizem decepcionadas com Deus ou com a igreja, mas que na verdade deveriam estar decepcionadas consigo mesmas? Muitos cristãos estão entregando-se ao máximo ou em demasia à obra do Senhor e esquecem-se que são seres humanos completos (corpo, alma e espírito) cuja satisfação não está apenas na espiritualidade, mas também em uma reunião familiar, em um programa de lazer ou até mesmo em descansar sozinho em casa assistindo um programa de tv. Mas quando esses irmãos que se dedicam tanto não se sentem correspondidos pela liderança da igreja ou pelos outros irmãos, sentem-se injustiçados.
Normalmente essas pessoas dizem: "mas eu fiz tanto por fulano" ou "eu fiz tanto pela obra..." será que não estamos amando pessoas, cargos, tarefas, funções acima do nosso amor próprio? Precisamos encontrar o equilíbrio das ações na nossa vida, para que não nos lastimemos por pretensas injustiças que imaginamos que sofremos, porque talvez os nossos prejuízos pessoais sejam apenas reflexo das nossas própria decisões de muitos vezes praticar justiça em demasia.
Que Deus em Cristo nos abençoe,
Ev. Sylmar Ribeiro Brito
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